O Avesso da Pele

Coletivo Ocutá apresenta adaptação do texto de Jeferson Tenório para alunos do Ensino Médio

Quatro atores no palco, sem coxia, se revezando entre os papéis de pai, filho, mãe, terapeutas e professor, encenaram uma peça gestada durante a pandemia. Na plateia lotada, alunos do Ensino Médio assistiram a essa montagem teatral do premiado romance “O Avesso da Pele”, escrito por Jeferson Tenório. Adaptado pela socióloga, atriz e diretora Beatriz Barros e pelo ator Vitor Britto, o espetáculo prendeu a atenção dos estudantes do começo ao fim.

Para quem ainda não leu, o livro conta a história de Pedro, filho de um professor de literatura assassinado em uma desastrosa abordagem policial, e a investigação desse filho sobre suas origens, o passado da sua família e a trajetória de seu pai. Assim como no texto de Tenório, o ritmo da peça é frenético. “Levamos para o palco esse movimento de vai e vem das memórias de Pedro”, explica Vitor.

“Foi muito interessante encenar a montagem em uma escola, já que ela também apresenta uma crítica ao sistema escolar brasileiro. Na peça, três narrativas se entrelaçam: o debate racial no país em que a gente vive, a relação entre pai e filho e o sucateamento da educação”, diz Beatriz Barros.

Ao final do espetáculo, com mediação dos professores Marco Cabral (História e Sociologia), Thaís Toshimitsu (Literatura) e Kelly Oliveira de Araújo (História), os alunos compartilharam suas impressões sobre o que haviam acabado de assistir. Abrindo a conversa, Marco destacou um trecho do livro, dito também no palco, que fica ecoando: “a perversidade do racismo é que ele nos impede de viver nossos próprios infernos. Neste país, um corpo negro vai ser sempre um corpo em risco.”

Para o ator Marcos Oli, a escuta dos alunos foi muito aberta: “Em uma escola majoritariamente branca, percebemos uma efetiva transformação da sociedade pela fala dos alunos”. O ator Alexandre Ammano ressaltou a coragem dos alunos ao falarem de como se sentiram ao ver o afeto entre homens negros em cena. Ele também se impressionou com várias falas que elogiaram a cenografia, a música, a iluminação, a preparação corporal e a interpretação dos atores. “Ficou claro o grande interesse que os alunos do Santa Cruz têm pela arte.”

Vitor Britto, dramaturgo e ator, também vê uma transformação em curso. “Há dez anos, eu estava na escola e não se via um debate com essa profundidade, inclusive com os alunos expressando como se sentiram constrangidos ao se perceberem racistas.” Um dos alunos chegou a dizer que a peça foi um “tapa na cara”, necessário, mas ainda assim doloroso. Em um momento muito emocionante, a aluna Maria Luiza Mendes Soares, a Malu, disse: “Somos poucos alunos negros aqui no Santa e foi muito bom ver a minha realidade estampada no palco. Agradeço a vocês e aos professores que nos proporcionaram essa experiência.”

À noite, o Coletivo Ocutá subiu novamente ao palco para fazer uma apresentação para um público formado por educadores, famílias, alunos, ex-alunos e amigos do Santa. A renda líquida obtida será integralmente revertida para o Programa Santa Plural do Colégio Santa Cruz.

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