Do quadro à tela

Conheça o resultado da parceria entre o curso de História do 8º ano, a Editoração e a Biblioteca para a produção de um objeto educacional digital

Um jovem encara o telespectador através da tela de um quadro – ou, neste caso, de um computador. Ao seu redor, estão múltiplos objetos e detalhes: penas, rolos de fio, flores, tecidos, cartas e mais cartas… Parece que, quanto mais olhamos, mais vemos. Quem é esse homem, pensamos, sentado em meio a tanta parafernália? Por que há múltiplas cartas à sua volta e por que elas estão em línguas diversas? Por que há uma balança que, apesar de vazia, pende em julgamento para um dos lados? 

Essas são apenas algumas das perguntas suscitadas pelo “Retrato do Mercador Georg Gisze”, que o artista suíço Hans Holbein, o Jovem, pintou em 1532. O quadro é um paradoxo: um primeiro olhar, talvez pouco cuidadoso, revela a representação naturalista de um homem do Renascimento. Entretanto, aos poucos, aspectos que antes pareciam certos passam a se contradizer: um braço em posição anatômica incorreta, paredes em ângulos impossíveis e uma mesa retangular que não é tão retangular assim. São elementos deliberados da imagem, que se revelam sob um olhar mais demorado e cauteloso. 

Pensando justamente nesse intrincamento imagético, educadores do Colégio desenvolveram um Objeto Educacional Digital (OED) que buscou proporcionar aos estudantes um ambiente dinâmico, interativo e provocador, a fim de enriquecer a análise do quadro de Hans Holbein. O OED foi resultado da parceria entre o curso de História do 8º ano, a Editoração e a Biblioteca. A análise do retrato já estava inserida na proposta do curso de História e era trabalhada através de imagens e textos. A intenção principal por trás do desenvolvimento do OED foi acrescentar mais camadas de complexidade à atividade inicial já existente.  

Existem muitos formatos possíveis de Objetos Educacionais Digitais – como sites, áudios, vídeos, animações, jogos, simuladores etc. –, que podem ser entendidos como qualquer recurso digital reutilizável em diferentes contextos para apoiar a aprendizagem. Para a análise do quadro de Hans Holbein, os educadores optaram pela produção de um aplicativo web, isto é, de um aplicativo disponível na internet e acessível pelo navegador, por meio do qual os estudantes pudessem ser desafiados a descrever, identificar e analisar os múltiplos elementos representados na pintura. 

Há quatro versões do OED, uma para cada momento de estudo. Todas contam com uma imagem grande e de alta resolução que reproduz o quadro com excelente qualidade. A primeira versão, inclusive, conta apenas com a pintura e os mecanismos de aproximação e afastamento das minúcias representadas no quadro. Este primeiro momento, afinal, foi pensado para a Descrição e Identificação: uma tarefa em que os estudantes tivessem a liberdade de olhar o quadro e apontar aspectos existentes nele, sem nenhuma interferência do próprio objeto. 

Após a análise livre do OED, a proposta da segunda versão é conduzir o olhar do aluno por elementos específicos da imagem. Nesta etapa, os diversos elementos, que abrangem desde as flores até o corte de cabelo do jovem mercador, aparecem identificados por números e divididos em categorias, cada uma diferenciada por uma cor. Entretanto, o motivo por trás do agrupamento dos elementos ainda não é revelado: os estudantes devem apenas fazer a identificação de cada um dos itens e começar a elaborar hipóteses a respeito das ligações entre eles. 

Na terceira versão, os alunos podem comparar as descrições que fizeram dos elementos do quadro com as suas respectivas legendas. No entanto, ainda que agora saibam o que é cada um dos elementos destacados na imagem, permanece a provocação para que analisem o motivo que une os diversos itens: mas, afinal, por que um vaso de flores e uma balança torta estão agrupados juntos?  

Por fim, a quarta e última versão do objeto traz a análise completa do quadro, com a imagem, as legendas dos elementos e, enfim, a revelação dos temas que unem os itens de cada categoria, além de explicações contextuais por trás de todos os objetos e agrupamentos indicados. 

A construção de um Objeto Educacional Digital como esse é uma tarefa complexa e depende de muitos saberes especializados: é preciso ter domínio do conteúdo, ser capaz de apresentá-lo de forma didática, conhecer as possibilidades tecnológicas disponíveis e, principalmente, garantir que o objeto esteja alinhado com a proposta pedagógica do curso, para que o material dialogue com os alunos e proporcione uma ampliação da aprendizagem.  

Por isso, a criação do OED “Retrato do Mercador Georg Gisze” foi um trabalho possível apenas porque foi feito em equipe, realizado ao longo de meses, com intensas trocas entre Maurício Freitas – professor de História do 8º ano, responsável pelo conteúdo inicial e pela utilização do objeto em sala de aula –, Bia Ruffino – educadora da Biblioteca, responsável pela redação, ampliação e organização do conteúdo – e Paola Nogueira – educadora da Editoração, que realizou a edição, o design e a programação do objeto. 

Na percepção dos educadores, a escolha do suporte digital para a produção deste material de apoio revelou-se bastante adequada, pois possibilitou o uso de recursos que não seriam viáveis, por exemplo, em uma ficha impressa. A ferramenta de ampliação permitiu que os alunos pudessem percorrer a imagem e descobrir os seus detalhes de forma ativa e em maior profundidade. A possibilidade de edição contínua permitiu que o material fosse atualizado aula a aula, com camadas crescentes de complexidade, segundo objetivos de aprendizagem planejados para cada momento. Por fim, o formato de aplicativo web permitiu a sistematização de uma grande quantidade de informações em uma interface simples e de fácil navegação: com um clique, os alunos aproximam cada um dos 41 pontos de atenção do quadro de suas respectivas legendas e descrições, além de poderem optar pela visualização simultânea ou segmentada das categorias propostas.  

A parceria para a criação do OED foi especialmente significativa para os resultados do trabalho, bem como para o aproveitamento dos estudantes durante essa atividade. Em anos anteriores, a condução realizada pelo professor gerava análises interessantes, mas nem sempre permitia o engajamento de um grande grupo de alunos, uma vez que dependia de um tipo de estratégia muito expositivo.  

O uso do OED “Retrato do Mercador Georg Gisze” possibilitou que mais estudantes se envolvessem no trabalho, em especial no momento de elaboração das hipóteses relacionadas aos agrupamentos propostos na segunda etapa. Desse modo, a parceria entre a Editoração, a Biblioteca e o professor acabou por permitir a criação de um OED que gerasse aprendizagens significativas e que fugisse da lógica dicotômica entre tecnologia e conhecimento crítico.  

Convidamos você também a encarar o jovem Gisze pelo seu monitor e descobrir a imensidão de possibilidades da tecnologia e do Renascimento.  

Por: Beatriz Ruffino, Maurício Freitas e Paola Nogueira

arrow_back Voltar para Notícias