Imaginação nas alturas

Neste ano e mês – outubro de 2020 – se comemora o centenário de nascimento de um dos mais importantes escritores do século XX: o italiano Gianni Rodari.

Além de escritor, Rodari foi também professor e pode alimentar muito de suas ideias sobre a criação e a criatividade no contato com as crianças e também com outros professores.

Em 1970, Rodari recebeu o Prêmio Hans Christian Andersen (considerado o Nobel de Literatura voltada às crianças e aos jovens) pelo conjunto de sua obra.

Toda a sua contribuição à literatura e à formação das crianças e dos educadores sempre esteve permeada por suas fortes convicções sobre o poder da criatividade e da relevância da palavra para um funcionamento social democrático. Em suas próprias palavras:
“Para mudar a sociedade são necessários homens criativos que saibam usar sua imaginação… desenvolvamos … a criatividade de todos para mudar o mundo.”

Rodari considerava a criatividade uma característica humana e não um dom concedido a poucos e junto com ela defendia o poder da palavra. Indicava como lema democrático: “Todos os usos da palavra a todos. Não exatamente para que todos sejam artistas, mas porque ninguém é escravo”.

Em homenagem a esse criativo escritor e professor, a nossa equipe destacou alguns de seus livros presentes em nosso acervo.

Indicações

Para começar, vamos acompanhar Rodari pelos olhos de Fabiana:
“Gianni Rodari era inventivo, criativo e também generoso. Traz em seus textos importantes reflexões sobre o comportamento humano e a vida em sociedade.”

– O trólebus 75
autores: Gianni Rodari
ilustradora: Blanca Gomez
tradutora: Renata Bottini
editora: Berlendis & Vertecchia

Numa bela manhã de início de primavera, o Trólebus 75 seguia seu caminho habitual levando os passageiros para os seus compromissos quando, de repente, desvia o trajeto e segue em direção desconhecida. Os passageiros, uns concentrados na leitura do jornal, outros com pensamentos distantes, demoram a perceber. Até que um passageiro nota o trajeto diferente e começa a gritar:
“Cobrador, o que está acontecendo? Traição! Traição!”
Os outros passageiros se dão conta do ocorrido e também começam a reclamar. O cobrador e o motorista, nesta altura dos fatos, estão desesperados sem entender nada, pois o Trólebus 75 não responde aos seus comandos.
Finalmente, o veículo para em um local inusitado e os passageiros terão uma manhã surpreendente! Será que esta surpresa será boa ou não?
Só lendo a história surpreendente, com ilustrações divertidas e encantadoras, para saber… Eu só posso dizer que, junto com essa descoberta, haverá também uma bela reflexão.

– Inventando números
autores: Gianni Rodari
ilustrador: Alessandro Sanna
tradutora: Michele Iacocca
editora: Edelbra

“Vamos inventar números?
Vamos, eu começo.
Quase um, quase dois, quase três…
É muito pouco, ouça estes: um extramilhão de megabilhões…”
Assim começa a brincadeira, ou melhor, a história de Rodari. Inventando números apresenta a matemática às crianças de maneira bastante original. Tabuadas, medidas e preços viram um divertido jogo. A leitura deste livro pode despertar a curiosidade e aguçar a imaginação.
As ilustrações de Alessandro Sanna são pinceladas criativas que compõem a narrativa e enriquecem a experiência do leitor.

– Os anões de Mântua
autores: Gioanni Rodari
ilustradora: Maria Eugênia
tradutores: Liliana e Michele Iacocca
editora: SM
coleção: Barco a vapor

Os anões de Mântua é uma fábula, cujo cenário é o Palácio Ducal, localizado na cidade de Mântua, na Itália. Narrada ora em verso, ora em prosa, conta a história dos anões que viviam no porão desse palácio.
Um dia, cansados de viver num local tão apertado, começam a se questionar e decidem crescer a qualquer custo. Iniciam então uma saga para ficarem mais altos. Tentam comer um queijo parmesão inteiro, dormir sem touca, fazer ginástica e nada.
A história toma um novo rumo, quando Rigoletto, o famoso bobo da corte, tem uma ideia bem malvada, envolvendo os anões, para alegrar o duque e a duquesa. Tal fato é tão humilhante que os anões acabam fugindo do palácio. Começa então a aventura desses pequenos…
Uma história com ritmo envolvente, não dá vontade de parar de ler até descobrir o destino dos anões.
Duas curiosidades sobre o livro:
• esta história é inspirada na ópera Rigoletto, de Giuseppe Verdi. Se quiserem saber mais, assistam a apresentação disponível no YouTube ou ouça o podcast do Teatro Municipal de São Paulo, disponível no Spotify.

• o palácio Ducal existe de verdade. É um conjunto de edifícios construído entre os séculos XIV e XVII. Possui mais de 500 salas, afrescos e esculturas de artistas famosos. Clique aqui para saber mais e ver imagens.

– Histórias para brincar
autores: Gianni Rodari
ilustrador: Andrés Sandoval
tradutor: Cide Piquet
editora: Editora 34

Este é um livro para ler e reler. São 20 contos e cada um tem três desfechos possíveis. A proposta do autor é que o leitor escolha entre três finais ou até mesmo crie um ou vários, a depender da imaginação de cada um.
O que é muito bacana é que o leitor não precisa se apegar a uma história única, são desfechos distintos: é possível escolher um na primeira leitura, outro na segunda e por aí vai…
Também pode ser bem divertido ler junto com um amigo e conversar sobre o final que cada um escolheu, porque duvido que todo mundo faça a mesma escolha.
Gostei de todos os contos, mas os que eu mais me divertiram ou fizeram pensar foram: “O cachorro que não sabia latir”, “Uma volta pela cidade” e “Táxi para as estrelas”. Eu não vou contar qual final escolhi. Mas é possível saber os finais escolhidos pelo autor! Como ele alerta inicialmente nas Instruções de uso: “olhe no final do livro, mas sem se deixar influenciar.”

Continuando as indicações, Neusinha compartilha os destaques que selecionou de Rodari:

– Alice viaja nas histórias
autor: Gianni Rodari
ilustradora: Anna Laura Cantone
tradutoras: Silvana Cobucci Leite & Denise Mattos Marino
editora: Biruta

Nesta obra de Rodari, acompanhamos a viagem de Alice que, ao se encantar com um livro, mergulha numa grande aventura. Ela vai folheando e, de repente, está dentro do livro e em meio a histórias bem conhecidas por nós: ” A Bela adormecida do bosque”, “Chapeuzinho Vermelho”, “O Gato de  botas”. Mas, o mais interessante, é a bagunça que ela faz ao se ver no meio das personagens.
Vale a pena ler para se divertir.

– A estrada que não levava a lugar nenhum
autores: Gianni Rodari
ilustradora: Sandra Jávera
tradutora: Gloria Kok
editora: Editora 34

Três estradas partiam de um vilarejo: uma levava as pessoas em direção ao mar,  a outra, em direção à cidade, e, a terceira, não levava a lugar nenhum.
Mas, o que acontece se um morador insiste em descobrir porque uma das estradas não leva a lugar algum?
Essa curiosidade leva Martim Cabeçadura (apelido dado pelo povo devido à sua insistência) a um lugar inusitado e tudo que vem a partir daí é pura surpresa!

– O homem da chuva
autor: Gianni Rodari
ilustradora: Nicolleta Costa
tradutor: Francisco Degani
editora: Biruta

O que aconteceria se um homem morasse nas nuvens e tivesse como missão controlar quando e como a água deveria cair do céu?
Como seria feito esse controle?
E se um dia esse controle fosse perdido, o que aconteceria na terra?
Em O homem da chuva Rodari permite que os pequenos leitores se divirtam pensando nessas perguntas e acompanhando essa criativa história.

Seguindo as indicações, vamos acompanhar as escolhas que Dina fez para apresentar aos nossos leitores:

– Tonico, o invisível
autor: Gianni Rodari
ilustrador: Alessandro Sanna
tradutor: Francisco Degani
editora: Biruta

Um livro muito divertido. O autor brinca com as palavras, contando a história de alguém que queria ser invisível. Mas a personagem, ao conseguir se tornar invisível, percebe que não era exatamente como esperava que fosse. Isso me fez pensar que é semelhante ao que acontece em nossas vidas, pois antes de alcançarmos algo, idealizamos como seria, mas quando a vivemos de verdade, percebemos que não era o que se imaginava.

– Zero, pra que te quero?
autor: Gianni Rodari
ilustradora: Elena del Vento
tradutor: Claudio Fragata
editora: FTD Educação

Neste livro, em forma de poesia com muita rima, o autor destaca o valor das pequenas coisas. Traz uma discussão muito bonita sobre respeito e diversidade.
Recomendo muito essa leitura e gostaria que as crianças lessem e falassem comigo sobre o que acharam para ver se consideramos as mesmas coisas, se gostamos das mesmas partes.
Seria maravilhoso!

– O homem do sonho
autor: Gianni Rodari
ilustradora: Ana Laura Cantone
tradutor: Francisco Degani
editora: Biruta

Neste livro, o autor nos fala sobre sonhos, bons e também ruins. Quem nunca sonhou?
Alguns são como aqueles dos quais não gostaríamos de acordar, como escorregar em um arco-íris ou voar pelos céus. Traz também assuntos de nosso cotidiano, como a escola. Tem informações e fantasia, tudo junto e misturado. Vale a pena ler, é bastante divertido.

– Quem sou eu?
autor: Gianni Rodari
ilustrador: Michele Iacocca
editora: Salamandra

Quem sou eu? é um livro em que o autor escreve brincando com as palavras, lendo, ri muito.
Nesta obra, percebi que o autor valoriza cada leitor, dizendo o que cada um pode representar em cada situação da vida e de seu cotidiano.
Super recomendo! Ao ler, me contem o que acharam?

Para conhecermos as indicações de Joelsa, vamos acompanhar seu depoimento:
“Quando surgiu a proposta de ler Rodari, por ser literatura infantojuvenil e eu ainda não o conhecer, pensei que seria uma leitura tranquila e bastaria só atentar aos traços ou ao estilo do autor para fazer minhas indicações. Ledo engano! Tive que voltar a leitura dos primeiros capítulos do primeiro livro várias vezes até pegar o ritmo da leitura, porque o convite que ali se apresenta é um mergulho em pura fantasia. Uma experiência distinta da que tenho vivido nas outras leituras que faço.
A conclusão foi a de que vale muito a pena fazer uma leitura compartilhada dessas obras com a criançada. Para isso, é preciso mergulhar no fantástico, no absurdo e no extraordinário e, assim, viver a leitura que o autor propõe. A diversão é garantida!”

– Era duas vezes o Barão Lamberto
autor: Gianni Rodari
editora: Martins Fontes

Já no primeiro capítulo, o autor vai nos dando pistas de que a história é um tanto esquisita. O barão Lamberto, um senhor excêntrico, muito rico e muito doente, com 24 doenças de A a Z, conseguiu arrumar uma fórmula para resolver seus problemas.
Beeeeemmm, problemas todo mundo têm. Entretanto, o gostoso da leitura de Rodari são os elementos que o autor coloca no texto para estimular a fantasia do leitor diante do concreto e da realidade.
Há uma passagem bem interessante em que o Barão Lamberto reclama com Anselmo (o mordomo), que quando ele pronuncia seu nome não dá para diferenciar maiúsculas de minúsculas. O mordomo responde sabiamente que a língua falada tem essa desvantagem.
Complementando sua reflexão sobre o funcionamento da língua o barão diz: “Eu sei, mas é muito desagradável. O L inicial do meu nome tem o mesmo som do L de lesma, lagartixa, lambe-lambe, é deprimente. Fico imaginando como o grande Napoleão podia tolerar que o N do nome dele tivesse o mesmo som de neurótico, ninguém, nádega…”
Em cada capítulo, surpresas e detalhes hilariantes.

– Um bolo no céu
ilustrador: Franceso Altan
tradutor: Francisco Degani
editora: Biruta

Em 1964, já com experiência de professor, Rodari publica essa história no jornal Corrieri dei Piccoli.
Esse conto nasceu em sala de aula com colaboração dos alunos da professora Maria Luisa, na Escola Elementar Collodi. Com seus métodos, o autor inovou a forma de escrever para (e com) o público infantil e nos presenteia com um texto em que a imaginação anda nas alturas, bem extrapolada, fazendo lembrar uma brincadeira fantástica.
Nessa história, Rodari trouxe nomes de outros personagens conhecidos do universo da literatura como Ulisses, Gepetto, Zorro, Matilde, Asterix e Cinderela. Também trouxe personalidades como Dante Alighieri, Newton e Copérnico. Diante de tantas referências misturadas saiu um bolo de história. Um bolo que veio do céu, delicioso!
O livro ganhou uma nova edição em 2019, pela mesma editora, e como não é de se espantar, recebeu premiação pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil.

Vamos para as derradeiras indicações de livros deste mês, acompanhando a seleção feita por Sandra:

– O que é preciso
autor: Gianni Rodari
ilustradora: Silvia Bonanni
tradutor: Iuri Pereira
editora: MovPalavras

Este livro é uma pequena obra de arte. Ele, inteiro, muito bem cuidado. A começar pela edição: capa dura, tamanho diferenciado, escolha da fonte, diagramação, qualidade do papel.
O texto, nem seria necessário dizer. É Rodari. Distinto de algumas outras obras já citadas, mas sempre criativo. É preciso nas palavras, sintético, nos fazendo percorrer um trajeto de sequências para saber “o que é preciso” para…
Neste livro é possível acompanhar, claramente, como as ilustrações – que são lindas, cuidadosamente organizadas desde as guardas do livro, em uma composição poética – compõem, junto com as palavras de Rodari, uma narrativa distinta. Para isso, basta imaginar ler o texto escrito sem ver as imagens… o conjunto faz toda a diferença!
As ilustrações são de Silvia Bonanni, artista italiana que vive em Milão e recebeu prêmio pela ilustração de vários livros, entre eles, este de Rodari.

– Fábulas por telefone
autor: Gianni Rodari
ilustrações: Bruno Munari
tradutora: Silvana Cobucci Leite
editora: Editora 34

Este livro é editado no Brasil há muitos anos, porém, só nesta edição de 2018, a Editora 34 trouxe junto ao texto de Rodari, as imagens originais de Bruno Munari.
Também italiano, Munari (1907-1998) é considerado um dos mais importantes designers do mundo. Atuou em diversas frentes artísticas e uma delas, o livro para crianças e jovens.
Neste livro, Rodari nos presenteia com mais uma história de sua incrível imaginação. A partir da ideia de um pai que conta histórias para a sua filha dormir, compartilha como o senhor Bianchi, um comerciante que mora em Varese, na Itália, e percorre todo o país vendendo medicamentos, garante – esteja onde estiver – uma história todas as noites como prometido.
Logo na abertura do livro, Rodari dá um empurrãozinho para que as crianças entrem na ficção, com gostinho de realidade: “Disseram-me que, quando o senhor Bianchi ligava para Varese, as telefonistas suspendiam todas as chamadas para ouvir suas histórias. Pudera! Algumas são mesmo muito bonitas”.
Que tal conhecê-las?

– Gramática da fantasia
autor: Gianni Rodari
tradutor: Antonio Negrini
editora: Summus Editorial

Este livro é diferente dos demais. Não é de histórias inventadas por Rodari. Mas, sim, parte da história organizada pelo autor sobre como inventar histórias.
Partindo da ideia de que “se tivéssemos uma Fantasia, assim como temos uma Lógica, estaria descoberta a arte de inventar”, a sua convicção de que a criatividade é parte da característica humana e do valor de liberação que a palavra pode ter, Rodari organizou as experiências que teve com a criação literária e em convívio com as crianças e nos proporcionou uma Gramática da Fantasia.
Nela podemos encontrar várias propostas para liberar, ao mesmo tempo, a criatividade e as palavras. Tudo compartilhado com muita sensibilidade, relatos de suas vivências como professor e exemplos que divertem, surpreendem e emocionam.

Convite

Que tal propor que – nesse tempo de convívio intenso familiar – crianças e adultos juntos, inventem uma história seguindo uma das propostas de Rodari, o “Binômio Fantástico”:
Escolha duas palavras para formar uma história.
Orientações:
“É necessária uma certa distância entre as duas palavras, é necessário que uma seja suficientemente estranha à outra e sua aproximação: discretamente insólita, para que a imaginação se veja obrigada a instituir um parentesco entre elas, para criar um conjunto (fantástico) onde os dois elementos estranhos possam conviver. Por isso é bom que o binômio fantástico seja escolhido com a ajuda do acaso. As duas palavras podem ser ditadas para duas crianças [ou adultos], às escondidas uma da outra, ou indicadas por um dedo que não saiba ler, em páginas de vocabulário desconhecido”. (p.21)
“No ‘binômio fantástico’ as palavras não estão presas a seu significado cotidiano, mas libertas da cadeia verbal da qual fazem parte cotidianamente. São ‘estranhas’, ‘desambientadas’, jogadas uma contra as outras em mares nunca dantes navegados. Só então encontram-se em condições ideais para gerar uma história.” (p.22)

Quem aceitar o convite e quiser compartilhar pode mandar sua produção para: biblioteca@santacruz.g12.br.

Nossa equipe irá adorar recebê-las!

Muita criatividade e liberação de palavras,
Equipe da Biblioteca

Crédito da foto: Nicolleta Bacco

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