O caminho da aprendizagem

A Educação Infantil organiza-se em torno do direito das crianças de viverem situações desafiadoras, acolhedoras, seguras, que lhes desenvolvam potencialidades, que lhes possibilitem apropriar-se de diferentes linguagens e saberes culturais, expressando-se com liberdade e espontaneidade.

As situações desafiadoras são provocadas com os bons problemas. Aos professores cabe identificá-los, dar lugar a eles e planejar perguntas e intervenções para ajudar a sustentar as crianças em suas indagações, e não cortar e nem encurtar os seus pensamentos. Fundamental também é escutar e observar ativamente, compreender as perguntas do grupo e pensar quais são os caminhos para construírem novos conhecimentos. Em outras palavras, podemos dizer que os professores sabem o que precisam ensinar, mas não perdem as oportunidades que aparecem.

Recentemente, em uma conversa sobre as aves, as crianças pensavam sobre a condição para os pássaros voarem e uma delas perguntou se não era possível voarmos sem asas e sem penas. A conversa seguiu para os voos simbólicos que fazemos no nosso dia a dia. Assim como, em outro grupo, depois de cantarem a música London Bridge, as crianças manifestaram interesse em saber mais sobre pontes. As professoras observaram um bom contexto de investigação sobre o tema: o que seria uma ponte para uma formiguinha? Para um elefante? O que acontece quando as pontes se rompem? E quais são as nossas pontes internas que nos ajudam a fazer as travessias na vida? As crianças embarcam nessas conversas, inteiras, percebendo-se em seus pensamentos e suas potências: o sentido poetizante que atribuem ao mundo caminha junto com o espírito investigativo.

A escola recria caminhos considerando o ritmo ágil de aprendizagem das crianças pequenas, sua vontade em desvendar o mundo e a necessidade de buscar situações desafiantes para aprendizagens significativas. Entende-se por situações desafiantes aquelas que exigem do sujeito aprendiz uma modificação de seus esquemas interpretativos e de seus instrumentos intelectuais, pois os que têm não são suficientes para resolver os desafios apresentados. Isto é, a escola deve buscar situações de aprendizagem que exijam ações inteligentes dos alunos, que os façam pensar, que provoquem a reorganização dos seus conhecimentos prévios para modificá-los gradativamente. Portanto, situações que disparam no observador inteligente o prazer intelectual de descobrir, na confiança de que as verdades são provisórias.

As crianças aprendem no cotidiano, com a possibilidade de voltar ao mesmo problema, para as mesmas questões, em tempos continuados, pois a possibilidade de um processo recursivo também é direito da aprendizagem, assim como ousar, tentar e tentar de novo. Elas são encorajadas, diariamente, a explorar o seu ambiente, a pensar sobre diferentes conteúdos da cultura e a expressar a si mesmas por meio de todas as suas linguagens e modos de expressão, incluindo a leitura e a escrita, os números, o movimento, o desenho, a pintura, os jogos dramáticos e a música.

As atividades da rotina são planejadas considerando os diferentes momentos de compreensão dos alunos e o modo como a dimensão coletiva da escola pode contribuir para avançarem em suas aprendizagens. As professoras planejam, diariamente, os agrupamentos das crianças para cada atividade do dia, o momento de oferecer os materiais e as informações, as intervenções mais pontuais, os problemas que podem ser propostos, sem perder de vista que, mesmo com um excelente planejamento, não é possível antecipar tudo, pois o que acontece na sala de aula é relacional, há uma cota importante do imprevisível. A observação de como as crianças respondem às atividades, de como se organizam nos grupos e lidam com as informações é fundamental para novos planejamentos e mudanças de rotas. O compromisso da escola é com a prática reflexiva, é reconstituir, permanentemente, o que aconteceu no plano de ação com as crianças, é pesquisar e analisar os registros realizados em diferentes interações para ajustar os desafios às necessidades das crianças, buscando situações cada vez mais potentes de aprendizagem.

Por fim, não podemos esquecer que a aprendizagem é construída na interação e na presença do outro: pelo olhar, pelo diálogo, pelos apontamentos e acolhimentos. Considerar o ponto de vista do outro, respeitar a diferença no tempo de aprender, as opiniões diversas, isso tudo envolve conflito e disponibilidade para o outro e para possíveis frustrações. Em um processo colaborativo, esses elementos são inevitáveis, e as vantagens, inquestionáveis. Todos esses olhares ajudam a descobrir outras maneiras de ver a realidade, a compreender um pouco mais e a começar de novo.  Nosso jeito de ver e perceber as coisas é tributário do nosso grupo, pois nos educamos dentro de uma comunidade.

A escola só tem sentido se ela ajudar os alunos a reconhecerem que fazem parte, que são capazes de agir coletivamente, preservando a sua subjetividade, singularidade e afetividade.

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