Tristeza e ansiedade na adolescência

As formas de cuidar do outro, as diferenças entre tristeza e depressão, os fatores geradores de desequilíbrio na saúde mental, os sinais de sofrimento psíquico e o nosso modo coletivo de lidar com a dor: temas como estes, que preocupam muitas famílias na atualidade, foram objeto de dois encontros realizados pelo psicanalista Christian Dunker ontem, dia 2 de maio, no Colégio.

No primeiro evento, dedicado a alunos do Ensino Médio e de 8º e 9º anos do Ensino Fundamental, o autor de Mal-estar, sofrimento e sintoma respondeu a perguntas dos adolescentes. Depois, apresentou uma palestra para os pais de alunos desses mesmos anos, seguida de uma sessão de perguntas e respostas.

“A percepção é de que há um sofrimento que não tem precedentes, que aumentou ou está mais visível ou assumiu novas formas”, afirmou Dunker. Nas duas ocasiões, explicitou que três características do momento atual colaboram para a depressão, a ansiedade e outras formas de sofrimento: “o aumento de processos de individualização, o declínio de experiências comunitárias e a vida digital”.

“Todo sofrimento depende de como é reconhecido. Todo sofrimento depende da história que a gente conta sobre ele”, afirmou o psicanalista. Por isso, defendeu, estreitar os laços e oferecer escuta são as melhores estratégias para lidar com o sofrimento. “Todos sabemos como cuidar do outro. Só precisamos colocar em prática”, afirmou.

Assista aos trechos da exposição inicial para os pais:

 

Mudanças históricas: adolescência, contestação e sofrimento

“Há uma percepção de que os nossos jovens não estão mais numa atitude de contestação, revolta, crítica. Eles estão sofrendo um novo tipo de sofrimento que é interpretado pelos pais como tristeza, apatia, tédio, desinteresse, indiferença e uma série de adjetivos. A gente pode tentar entender: por que a tristeza está sendo escolhida para diagnosticar?”

Relação entre gerações e novas formas de sofrimento

“Nossa geração tem uma expectativa de felicidade sobre seus filhos que torna a felicidade uma obrigação, um imperativo, um critério de sucesso e de boa performance dos pais.”

Era digital e sofrimento

“Por que está todo mundo tão feliz, e eu não? Porque eu sou inadequado. Eu fiz alguma coisa que não me pôs naquele lugar onde eu deveria estar. Eu tenho um problema, um déficit, alguma coisa que precisa ser solucionada, corrigida, avaliada.”

Tristeza não é depressão

“Todos os afetos deveriam ser vividos em toda a sua inteireza.”

Adolescência e tristeza

“A adolescência desde sempre é um momento de disjunção em relação a nós mesmos. Mas se inventou essa outra adolescência que não é assim, é uma adolescência sem tristeza e sem sofrimento.”

Reconhecer e narrar: cuidados com o sofrimento

“O padrão de uma vida bem vivida talvez não seja métrica dos resultados que ela produziu, mas a história que a gente consegue contar sobre isso.”

O casamento

“A gente vai sofrendo junto e a gente vai se cuidando junto.”

Depressão: hiperindividualização do sofrimento

“Depressão é um sintoma que se ajusta perfeitamente a esse estado de coisas. O sujeito começa a achar que esse universo de problemas, dificuldades, soluções – nesse universo chamado vida, a coisa não foi bem por quê? Quem é o culpado? Você, só você. Se deu errado, a culpa é sua”.

Quando perdemos o fio da meada?

“Quando a gente passou a considerar o sofrimento como algo individual, associado ao afeto da culpa e àquele que não consegue produzir.”

Destratando o sofrimento

“O que acontece quando a gente destrata o sofrimento – o próprio e o alheio? Você está vendo o outro se arrastar na classe, mas você não vai se intrometer, você não sabe o que fazer, vai que você fala algo que não é legal. Então deixa. Deixa, porque uma hora resolve. Deixa e trabalha, porque trabalhando passa. Ou seja, você maltrata o sofrimento.”

Sofrimento e suicídio

“Eu posso ter uma situação em que o conflito se dá de forma tão direta, tão crônica, tão longa no tempo, que eu decido fazer algo. Esse é o caso do suicídio.”

Suicídio: fatores de risco

“Há cinquenta anos, as taxas de suicídio só crescem em todo o mundo. Em dez anos, cresceu 60% no Brasil. É a segunda maior causa de morte entre pessoas de 15 e 24 anos. Isso significa que ter entre 15 e 24 anos é estar nesse grupo de risco.”

Caminhos para combater o suicídio

“A família não é, hoje em dia, a matriz mais importante para a experiência de comunidade. Mas tem que ser alguma, porque em um laço como esse você tem narrativa, reconhecimento, transitivismo – essa experiência de escuta. A escuta não é só o psicólogo que vai fazer. A gente sabe como cuidar uns dos outros, mas não se autoriza a fazer isso.”

O suicídio e os sobreviventes

“Quando isso acontece, é uma escolha trágica, uma escolha infeliz, uma escolha que a gente lamenta, mas que é uma escolha que tem dignidade interna, porque ela ressoa em cada um de nós. É por isso que a gente teme o contágio, é por isso que a gente é convocada para isso.”

A versão integral, sem edição, pode ser conferida neste link: Tristeza e ansiedade na adolescência.

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