Professora Lidiane Pereira: uma trajetória de luta e educação transformadora

Professora da EJA do Colégio acaba de receber o terceiro lugar na 27ª edição do Prêmio Educador Nota 10, no eixo Direitos Humanos

A professora Lidiane Pereira da Silva Lima, que leciona Língua Portuguesa na Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Colégio Santa Cruz desde 2022, personifica a força da educação como uma ferramenta de transformação social. Sua história, marcada por desafios e conquistas, é inspiradora para suas alunas, seus alunos e toda a comunidade escolar.

“Minha trajetória acadêmica é diferente da dos meus colegas. Sou uma mulher negra, periférica, filha de pessoas que não acessaram a educação formal. Minha chegada à faculdade é marcada por muitos desafios”, compartilha Lidiane. Ela cursou Letras na Unip, conciliando os estudos com o trabalho como garçonete para custear sua formação. “Depois da graduação, fui atrás de complementar meus estudos”, conta a docente, que fez duas pós-graduações na PUC, uma em Literatura e outra em Língua Portuguesa.

Com a entrada no mestrado no Programa de Pós-Graduação em Humanidades, Direitos e Outras Legitimidades (PPGHDL), da FFLCH/USP, aos 36 anos, Lidiane realiza a “restituição de um sonho, que era acessar a universidade pública”. Curiosamente, quando ingressou na faculdade, Lidiane ainda não sabia se queria ser professora. Mas, ao ter os primeiros contatos com a obra de Paulo Freire, nasceu o desejo de atuar de forma transformadora em sala de aula.

O compromisso com uma educação crítica-emancipatória levou Lidiane a desenvolver projetos inovadores. Seu trabalho com o projeto Eu Posso Ser Poeta, voltado para escolas públicas, foi reconhecido com o Prêmio Paulo Freire de Qualidade em Educação Pública Municipal e o Prêmio Educador Nota 10, em 2020.

“Cheguei ao Colégio Santa Cruz em 2021 para dar uma formação aos colegas do Fundamental 2, pois na época eu estava iniciando o processo de criação de um currículo decolonial e antirracista. Quando surgiu a vaga nos Cursos Noturnos, tanto a Joana, diretora do Fundamental 2, quanto o Rafael Palomino, professor de Língua Portuguesa, me indicaram”, relembra Lidiane sobre sua chegada à instituição.

Neste ano, ela se destacou novamente como finalista do Prêmio Educador Nota 10, dessa vez com um projeto realizado na EJA do colégio, ficando em terceiro lugar no eixo Direitos Humanos. “A voz de levantes das trabalhadoras domésticas no Brasil” é fruto de uma atividade desenvolvida pela fase 5 do Ensino Fundamental 2, que corresponde aos 6º e 7º anos, dentro de um eixo estruturante do currículo da EJA chamado “O mundo do trabalho”.

Outro educador da EJA, Felipe Bandoni de Oliveira, já foi escolhido como Educador do Ano, em 2012, com o projeto Lua de São Jorge, uma sequência didática sobre a Lua, onde os estudantes redigiram suas crenças, leram textos de referência, analisaram imagens, debateram o assunto e observaram o céu à noite com ajuda de um telescópio

“Todo início de semestre realizo uma atividade de sondagem com dois objetivos: primeiro, como professora de Língua Portuguesa, verificar como os estudantes estão escrevendo, que competências e habilidades leitoras dominam. Segundo, descobrir qual será o tema de aprofundamento dentro do eixo ‘O mundo do trabalho’”, explica Lidiane.

Para realizar essa sondagem, ela apresenta aos estudantes um capítulo chamado Domésticas, do livro Diário de Bitita, da autora Maria Carolina de Jesus. A partir da leitura, pede que façam um mapeamento dos trabalhos realizados por Carolina de Jesus – se foram positivos ou negativos – e que relatem suas próprias experiências. “O tema do trabalho doméstico aparece com muita força, tendo em vista que a nossa EJA é composta predominantemente de mulheres que são trabalhadoras domésticas. A partir da escuta sensível dos relatos, nasce o projeto com o qual concorro novamente ao prêmio do Instituto Somos.”

“A vida inteira atuei em escola pública, mas acredito que toda educação deve estar comprometida com as questões sociais, com o combate às desigualdades de raça, classe e gênero. Assim como ensino aos meus estudantes que todos os lugares nos pertencem, esse espaço aqui, no Santa Cruz, apesar da minha trajetória, também me pertence – e é esse lugar que tenho tentado honrar da melhor forma”, conclui a professora.

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