Estudo do Meio da EJA

Alunos dos Cursos Noturnos conversam com lideranças indígenas

Os estudantes do ciclo 1 da Educação de Jovens e Adultos visitaram, no início de junho, uma comunidade guarani no Jaraguá. Para a atividade, os alunos realizaram, previamente, pesquisas e leituras sobre questões referentes aos povos indígenas.

Leia o relato produzido pela professora Samantha.

Peabiru

Samantha Freitas

No último sábado, 3 de junho, estudantes e professoras do ciclo 1 da EJA estivemos na Tekoa Itakupe, com uma das comunidades guaranis que ali vive há 17 anos. São 8 aldeias guaranis na Terra Indígena do Jaraguá, que seguem lutando por demarcação de todo o seu território.

Cristina Ktakupe, liderança guarani da comunidade de 20 famílias, e seu filho, Xondaro, falaram sobre as lutas por demarcação no território indígena do Jaraguá, no contexto das mobilizações dos povos indígenas em todo o Brasil contra o Marco Temporal, assim como nos conduziram por seu modo de vida através de algumas das trilhas do Parque Estadual do Jaraguá, área de Mata Atlântica que têm ajudado a reflorestar e que em décadas recentes foi devastada pela criação de gado. São áreas de replantio de árvores nativas e de recuperação de nascentes, assim como agricultura orgânica e construção de lagos para pesca, entre as atividades de subsistência que se somam à venda do artesanato guarani em cerâmica, madeira, cestaria, colares e pulseiras, bela produção das mulheres guaranis. A comunidade busca apoios também para a construção de um centro comunitário, a casa redonda, já iniciada, assim como luta em conjunto com as demais tekoas do Jaraguá por demarcação de seu território.

A vivência foi parte do projeto deste semestre nas turmas do ciclo 1 da EJA, em que refletimos sobre algumas das principais temáticas dos povos indígenas brasileiros, lendo contos e mitos de origem de diferentes etnias, poemas e outros textos de lideranças indígenas contemporâneas como Eva Potiguara e Márcia Kambeba, documentários e materiais audiovisuais, rodas de conversa nas turmas, palestra de Arassari Pataxó – um conjunto de atividades para sensibilização e ruptura com estereótipos sobre a questão indígena. Nesse percurso, algumas educandas e educandos refletiram de maneira densa, compartilhando nos grupos sua ancestralidade indígena e a presença de algumas etnias em seus territórios de origem, assim como a vivência em processos de demarcação de terras indígenas, em especial nos estados de Alagoas e Paraíba.

Nas conversas após a vivência, trouxeram a força e a beleza da comunidade guarani que conheceram. O silêncio para ouvir a natureza foi um dos ensinamentos guaranis mais profundos, assim como o respeito a um outro espaço sagrado, a casa de rezas, onde ouvimos não apenas os ensinamentos das lideranças, mas o belíssimo canto-oração de agradecimento das crianças, adolescentes e jovens a Nhanderu.

Também foi intensa a tomada de consciência dos preconceitos e das violências diversas contra quem não é considerado “índio de verdade”, os preconceitos das crianças não indígenas nas escolas, o descaso da população não indígena que foi abandonando 2 mil cachorros e gatos nos diversos espaços das tekoas, a falta de políticas públicas efetivamente enraizadas no território, a violência contra os jovens indígenas.

Diante da vontade de voltar outras vezes e permanecer por mais tempo, de levar filhos e netos para conhecer e aprender com aquela comunidade, assim como de contribuir com doações de alimentos, roupas e, sobretudo, mudas de árvores frutíferas, além da participação nas ações de pressão política por demarcação do território e por apoios efetivos para as construções guaranis, demandas que nos foram apresentadas, agora nos cabe transformar a vontade em ação concreta, a vivência em encontro.

Revivo minha luta

Meu eterno sonhar

Batendo no peito

Nós vamos falar

Vem unir com a gente

Vem plantar a semente

E ver germinar

Yumana (Abraçar)

Márcia Wayna Kambeba

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