Encontro de Famílias 2025

Um sábado de muitas trocas entre educadores, especialistas e famílias, com a presença especial da liderança indígena Ehuana Yanomami

No último dia 26, vivenciamos um momento potente de encontro, diálogo e reflexão conjunta, sobre temas que nos mobilizam enquanto comunidade, que surgem nas reuniões de alunos, familiares e educadores com a orientação educacional.

A abertura foi no teatro, onde todos se reuniram para a palestra: “Por que vocês, napëpë (não indígenas), são tantos, mas vivem sempre fechados em suas casas?” A conversa girou em torno de tecer redes de cuidado e fazer comunidade e contou com a presença preciosa de Ehuana Yanomami (leia a minibio abaixo) e da intérprete Ana Maria Machado, com mediação da psicanalista Ilana Katz. 

Ehuana nos contou sobre sua percepção do que é viver em uma cidade como São Paulo, ao mesmo tempo em que compartilhou o modo Yanomami de estar no mundo. Enquanto o cuidado mútuo é a base da vida em comunidades indígenas, prevalecem, na nossa sociedade, a individualidade e a solidão. Segundo Ehuana, somos como as saúvas, que andam em suas trilhas, sem olhar para o lado. Para a líder indígena, é inexplicável que pessoas vivam em situação de rua, por exemplo, enquanto em sua casa comunitária, na Amazônia, todos compartilham as refeições e os cuidados com as crianças e os mais velhos. “Vivemos em casas coletivas e olhamos uns para os outros. Cuidamos muito das crianças, alimentamos, colocamos para dormir”, conta a liderança Yanomami. Sobre a infância, Ehuana, que é mãe de quatro filhos e avó, nos conta que em sua cultura, não existe lugar proibido para as crianças, a educação delas acontece no fluxo da vida. “As crianças participam da pesca, dos funerais, vão para a roça. É assim que elas aprendem o nosso modo de viver.”

Mediando a conversa com Ehuana, Ilana Katz nos convocou a repensar atitudes individualistas e uma certa apatia que nos entorpece e não colabora para o enfrentamento dos graves problemas sociais e ambientais que estamos atravessando.

Após esse momento de muita reflexão e deslocamento de olhares, as famílias se encaminharam para rodas de conversa conduzidas por especialistas. Alguns temas, como bullying, comportamento compulsivo e ansiedade e depressão, tratados na edição do Encontro de Famílias do ano passado, se repetiram dada a grande procura. A eles se somaram conversas sobre masculinidades, proteção das crianças e dos adolescentes e responsabilidades na era digital e como cultivar valores éticos e respeitosos no ambiente familiar, entre outros.

Minibio: Ehuana Yaira Yanomami é uma liderança Yanomami, artista, pesquisadora, mãe de quatro filhos e avó. Nascida em 1984 em uma região preservada da floresta amazônica, ela ainda vive lá com sua família. É uma das organizadoras do Encontro das Mulheres Yanomami e pesquisadora pela Universidade Federal de Minas Gerais no projeto Redes de Cuidado. Além disso, Ehuana tem se destacado como porta-voz das mulheres Yanomami, tanto em reuniões e eventos na Terra Indígena Yanomami quanto entre os napëpë (não indígenas), na luta contra o garimpo ilegal e na defesa da floresta.

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