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“Quando a gente pensa no racismo, ou em qualquer outra forma estrutural de exploração, não é que o outro está em perigo, todos nós estamos em perigo.”
(Rosane Borges)

A frase proferida pela jornalista e doutora em Ciências da Comunicação Rosane Borges, no encontro virtual intitulado “Descolonização do olhar”, dá o tom de urgência ao necessário movimento pela ampliação da diversidade racial em nossa escola. Realizado no último dia 25, o webinar contou com participação de Fábio Aidar e Débora Vaz, representando a direção do Colégio, de Marco Cabral, representando os educadores, e de Nicole Carnizelo e Regiane Belo, representado um grupo de pais.

Fábio saudou os mais de 300 espectadores lembrando o histórico humanista do Colégio e contando que o Santa Cruz mantém aproximadamente 600 alunos que estudam gratuitamente nos Cursos Noturnos (EJA e Ensino Técnico), sendo 50% deles negros, e 18 alunos bolsistas no Ensino Médio, egressos da escola pública, pelo Projeto Ipê. “O evento de hoje deve refletir sobre o aumento da diversidade racial entre os alunos dos cursos diurnos e entre os educadores da escola. O fato de termos pouca diversidade no curso diurno sempre nos incomodou.”

Débora ressaltou que a escola tem compromisso com a aprendizagem de toda a sua comunidade, não só de seus alunos. “É muito bonito pensarmos que estamos aqui nesta noite para uma aula com a professora Rosane, que nos coloca em uma posição privilegiada e maravilhosa de alunos.”

Nicole Carnizelo, mãe de dois alunos do F1, representando um grupo de pais que querem uma escola mais diversa, disse: “Precisamos desenvolver uma corresponsabilidade social na superação do racismo e das outras discriminações.”

Regiane Belo, mãe de uma aluna do F1, que faz parte do mesmo grupo de pais que, conjuntamente com a escola, está desenvolvendo ações afirmativas para promover a diversidade e a equidade racial na comunidade, completou: “Acreditamos na urgência dessa pauta e nos benefícios que virão para toda a sociedade brasileira.”

Na sequência, Regiane compartilhou com a audiência o projeto em construção, que se organiza em quatro grandes pilares:

1) Aumento significativo de pretos, pardos e indígenas (PPIs), com o oferecimento de bolsas para inclusão racial e social e, também, processos de seleção que atraiam alunos PPIs pagantes;
2) Fomento à educação e à sensibilização de pais, alunos e educadores;
3) Ampliação de referências não brancas entre professores, coordenadores e lideranças na escola;
4) Aprofundamento da sensibilização da questão racial, entendendo o lugar de fala das referências não brancas no currículo da escola.

Durante o encontro, um QR code com formulário para inscrição no grupo que trabalha pela diversidade racial no Colégio foi disponibilizado e ficou o convite para que mais pais se engajem.

Marco Cabral, professor de História e Sociologia do Ensino Médio, representava um grupo de cerca de 80 docentes e funcionários que se reúnem semanalmente para encarar o desafio de pensar sobre o racismo, “não só na sociedade brasileira, mas, sobretudo, dentro dos muros da escola.”

Rosane começou agradecendo o convite para debater o tema tão urgente e necessário e que, em suas palavras, vem causando fissuras no tecido contemporâneo brasileiro. “Falar sobre essas questões é a gente antecipadamente instaurar uma pergunta que não quer calar: de que lado da história humana estamos, pela emancipação da condição humana ou pelo sacrifício dela?”

Para a doutora, falar da descolonização do olhar é falar dos esforços que se cruzam entre os membros da comunidade do Colégio na superação do racismo, da desigualdade e da exclusão de grupos raciais não hegemônicos. Para ela, nos reconhecermos como racistas não representa nenhum desvio de caráter e, muito pelo contrário, é o pontapé inicial. “O brasileiro gosta de ser reconhecido como um povo afável e hospitaleiro, mas temos uma face violenta: somos o país que mais mata pessoas trans no mundo, nosso racismo é letal. (…) O fantasma da escravidão ainda é um operador nas nossas relações sociais. Quando falamos de descolonização do olhar, estamos falando das estruturas profundas que nos governam e é dolorido trazê-las à tona.”

Aproximando o debate da comunidade do Colégio, Rosane questionou: por que o Santa Cruz tem que ser antirracista? “Porque o que acontece em Porto Alegre [citando o caso de João Alberto Silveira Freitas, homem negro de 40 anos que foi espancado até a morte em um supermercado] ou nas periferias, também coloca o Santa Cruz em perigo, porque com esses eventos criminosos todos nós perdemos nossa cota de humanidade, nós morremos um pouco.” E seguiu em sua reflexão: “Não há possibilidade de a gente pensar em civilização, em humanismo, se o outro passa fome, se tem gente que morre simplesmente por sua cor de pele.”

Vale a pena acompanhar na íntegra a aula que Rosane nos deu e suas respostas às perguntas enviadas por nossa comunidade. Acesse o vídeo do evento.

Rosane Borges é jornalista, doutora em Ciências da Comunicação, professora colaboradora do Colabor (ECA-USP), pesquisadora na área de comunicação, imaginários, política contemporânea, relações raciais e de gênero, conselheira de honra do Coletivo Reinventando a Educação, integrante do grupo Estética e Vanguarda do CTR (ECA-USP), articulista da revista Carta Capital, do blog da Editora Boitempo. Autora de diversos livros, entre eles: Espelho infiel: o negro no jornalismo brasileiro (2004), Mídia e racismo (2012), Esboços de um tempo presente (2016).

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