Histórias de resistência

Estudo do Meio do 5º ano dá maior destaque à história dos negros após a abolição

Nos últimos anos, os princípios da educação antirracista têm provocado mudanças curriculares expressivas em todos os cursos. No caso do Fundamental 1, temas referentes à escravização, a suas consequências e às heranças da cultura negra na formação de nossa identidade como país têm sido focados de diversas formas, inclusive em Estudos do Meio.

Nesse sentido, o Estudo do Meio no Oeste Paulista, do 5º ano, tem passado por transformações. No programa original, os estudantes visitavam três fazendas de café e o foco do estudo era a imigração. Mesmo abordando questões relativas ao sistema escravocrata, os temas principais eram a importância da cultura cafeeira para a economia brasileira, a exploração do trabalho assalariado e o endividamento dos imigrantes em relação aos fazendeiros.  

Em 2023, o roteiro foi alterado. Sem deixar de lado o processo imigratório, intensificou-se a discussão sobre a situação dos ex-escravizados e a política de embranquecimento da população brasileira. Nessa abordagem, são discutidos com os alunos aspectos que contribuíram para a situação de marginalização dos negros no final do século XIX e no início do século XX, como a criminalização do samba e da capoeira e a exigência de alfabetização para certas vagas de emprego, sendo que aos negros era legalmente vedada a frequência escolar.

“Não haveria necessidade do trabalho imigrante se não fosse a intenção de embranquecer a população”, explica Ana Cláudia Smaira, coordenadora pedagógica do Fundamental 1. Ela esclarece que a intenção das mudanças no Estudo do Meio é enfatizar a situação dos ex-escravizados no Brasil, mas sem eliminar a questão da imigração.  Em outros termos, não se pretende fazer “outro apagamento”.  “O objetivo é abordar mais a história negra no Brasil após a abolição”, afirma.

Com esse propósito, houve a substituição de uma das fazendas por um centro de cultura negra, a Fazenda Roseira. Nesse espaço cultural, as crianças conversam com as lideranças, conhecem a culinária típica do local, participam de oficina de percussão e aprendem a dançar jongo. Essa dança é vivenciada não apenas como uma manifestação cultural, mas também como um movimento de resistência. Os alunos ainda observam um painel de lideranças negras femininas, que mostra a importância das mulheres na luta por direitos.

Neste ano, os movimentos de resistência, com a assessoria do professor Eduardo Chammas, serão o foco desse Estudo do Meio. Por isso, foi incluída no programa a visita ao Instituto Baobá, onde os alunos serão convidados a vivenciar uma manhã de oficinas, com capoeira, canções e maculelê.

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